Vista do Cristo (Rio de Janeiro)

Vista do Cristo (Rio de Janeiro)

domingo, 21 de dezembro de 2008

Espetáculo da vida


Na escuridão da noite
eis que nasce o sol
uma cortina se recolhe
frente ao espetáculo da luz
os móveis da sala se calam
as flores recobrem o esplendor
as plantas choram de alegria
e a terra se umedece
ao ver que se aproxima
como uma suave brisa
o nosso Salvador.
Edvanio, sf

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O pó-nosso-de-cada-dia


No quarto, enquanto limpava os móveis do pó-nosso-de-cada-dia, eu ri. É pura verdade! Não que o pó cause em mim acesso de risos. Mas é que me lembrei da tarefa inútil que realizava e reclamava. Este, segundo o nosso amigo Aurélio, “tenuíssimas partículas de terra seca, ou de qualquer outra substância, que cobrem o solo ou se elevam na atmosfera”. O pó não sedia. Embora não o via, a não ser horas após a suada limpeza. Deus é como o pó. Ele chega por onde menos se espera: pela janela, pela tela, pelo telhado até pelo sapato. Não adianta negá-lo. Deus lá está. Sua Graça, de graça nos abraça. Podemos aceitá-Lo e amá-Lo, fazendo-nos faxina necessária. Ou, vegetarmos com uma capa protetora. Empoeira-me Senhor. Embora não O veja, seu Espírito paira pelo ar. Deixemos que a ação deste pó invada as narinas e provoque em nós espirros mil. Expelindo de nossa vida, a auto-suficiência e a descrença no Deus que nos fez e nos fará voltar ao pó. Acreditemos nEle, mas não transformemos nossa vida em pó, caso contrário, podemos ser sugados pela grande invenção humana o hiper-moderno aspirador, já que sem Deus somos menos que uma ridícula partículas. Com Ele de certo, um ciclone no deserto.
Neste Natal deixemos que o Menino-Deus, como a poeira fina, desça sobre nós e nos faça com suas “Partículas de Graça”, seres humanos mais “móveis” aos desígnios do Pai. E, nos mobilizemos em favor daqueles que “imóveis” sofrem sem a poeira da vida.
Feliz Natal!
Edvanio, sf

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Natal em 36 prestações


Ao andar pelas ruas da cidade foi possível evidenciar aquilo que insistia em não acreditar. Seqüestraram o Natal !!! E se o quisermos de volta um alto preço há que se pagar.
Nestas andanças, se pode ver de tudo... desde botas, chapéus, bolas, roupas vermelhas, renas, guirlandas, propagandas, propagandas, propagandas e mais propagandas que inocentes se propagam numa profusão de cores, sons e imagens a uma interatividade que causa espanto, principalmente na conta do banco. É o natal! Como bem frisou um senhor, ‘quando ele chega agente fica louco’. Pessoas numa loja disputavam a tapas uma liquidação imperdível, que as deixava fora de órbita, afinal onde se poderia encontrar papai Noel como aquele, oferecido em somente 36 prestações sem juros, escutou bem, sem juros. Que “canta, mexe e remexe, da nó nas cadeiras, deixando a moçada com água na boca”.
Quanto ao seqüestro, poucas pistas nos foram dadas, será que teremos que acionar o BOPE? Criar mais uma CPI? Ou ainda, recorrer ao FMI? Na verdade não se sabe. Diante de tudo isso, só há uma certeza: Tenho muita saudade do Natal. Não deste falsário que circula por ai de barba branca – amigo do consumismo. Falo de outro, que não obstante a divindade se fez homem, aquele que sendo Verbo é capaz de conjugar todas as pessoas num só tempo e espaço, ao redor duma mesa que santifica e alimenta. Natal onde o Presente, é gente como a gente. Não se vende, se doa – de pessoa para pessoa.
Por essa razão é que vos escrevo. Na esperança de que os insensíveis seqüestradores, adoradores de presentes (estando estes ou não em liquidação), estejam cientes da maldade causadas a toda essa gente, privando-as desta Presença. E, alertar para aqueles que souberem do paradeiro ou do cativeiro, denunciem, ou melhor, anunciem aos quatro cantos da terra que Ele quer aparecer, nascer, nos fazer crescer, embora muitos façam questão de esquecer. Quanto à recompensa, podem ficar tranqüilos, se paga muito bem! Nem que para isto o Natal tenha que ser pago em 36 prestações.


Edvanio, sf. - (Natal de 2007)

domingo, 7 de dezembro de 2008

Aquela cena sempre rolou!



“O Natal está chegando!” diz, convincentemente, um anúncio televisivo. Que natau é esse?? Pergunta Joãozinho ao pai, que se encontra ao lado, e não responde. O filho, curioso, pergunta mais uma vez, e acrescenta; ele irá visitá nóis papai? A mãe, preocupada com aquela situação embaraçosa, interfere, dizendo: Filhinho, vai brincá lá fora com seus amiguinho e deixe seu pai em paz. Aquela cena ecoou, não só naquele instante, mas por muitos e muitos anos. Embora o filho, insistentemente, tentasse mudá-la. Até hoje não obteve resposta. Talvez, porque o pai não tivera suficiente coragem para dizer, filho, nós somo pobre, o natal só chega pros rico. Por trás de um forjado silêncio e de um “vai brincar lá fora”, provavelmente, se escondia um pai e uma mãe, envergonhados por não poderem comprar, ao menos, um sapato novo para o filho, já que aquele se desgastara de tão velho. E, de nem tampouco poder preparar um digno jantar, a base de feijão, arroz e carne. Esta era a cena que, incansavelmente, rolava todos os anos, já que o deus esperado tinha outro nome e exigia um berço esplêndido para o seu nascimento. O estábulo não servia. Felizmente, o “deus do consumo” nesta casa nunca pôde habitar. Não por serem pobres, mas porque nela outro Deus teimava em nascer. Embora não enxergassem, o Natal sempre os visitou, ou melhor, ele sempre aconteceu. Sabe porquê? Porque naquelas noites uma cena sempre rolava: O pai, a mãe e o filho, juntos repartindo com amor a última migalha de pão da mesa farta do patrão.
(Edvanio, sf. - Natal - 2006)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Palavras



Palavras custam tanto.
Não há dinheiro que as compre.
...
Edvanio, sf.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Volante

Vida é volante
(de preferência hidráulico).
Ora à direita,
ora à esquerda.
Nas mãos de Deus.
Edvanio, sf.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Água

A água que cor/ria/acho.
Edvanio, sf.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Hoje e amanhã

Deixar para amanhã.
É o que sempre faço hoje.
Edvanio, sf

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Continua!

Você é pedra e tempo
Alguém trabalha em ti...
Martelo e cinzel,
Arte e ofício,
engenho e paciência...
Você é...
Vida e ciência!
Com meu abraço e estima
Escribano, s.f.

(Em resposta a "Canja de Letrinhas")

domingo, 26 de outubro de 2008

Sopa de Letritas

Leer es como comer.
Algunos prueban de todo,
engullen hasta decir ¡basta!
Otros, sólo tontería;
Hay los que comen por obligación;
Unos pocos por placer;
Y, raros los que saber elegir.
Vitaminas, proteínas... minerales.
Yo, no como mucho,
pero no dispenso un buen plato.
De preferencia lleno de letritas.

Edvanio, sf.

sábado, 25 de outubro de 2008

Canja de letrinhas


Ler é como comer.
Alguns provam de tudo,
engolem até dizer chega!
Outros, só besteira;
Há os que comem por obrigação;
Uns poucos por prazer;
E, raros os que saber escolher.
Vitaminas, proteínas... minerais.
Eu, não como muito,
mas não dispenso um bom prato.
De preferência cheio de letrinhas.

Edvanio, sf.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Vocación

No tengo vocación de puerta.
Dios me libre de ser tranca.
Prefiero ser bisagra
revolotear en el interior de la casa.
A detener personas,
ni dentro ni fuera.
Prefiero el arte y la precisión
de ser brazo y sustento
Que lleva y que trae;
halo, esfuerzo y abnegación.

Edvanio, sf.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Vocação


Não tenho vocação para porta.
Deus me livre ser tranca.
Prefiro ser dobradiça
bater asas no interior da casa.
A deter pessoas,
nem dentro e nem fora.
Prefiro a arte e a precisão
de ser braço e sustento
que leva e que traz;
elo, esforço e abnegação.

Edvanio, sf.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Regras



Uns por aqui.
Outros por ali.
Afinal, para onde devo ir?

Edvanio, sf

terça-feira, 23 de setembro de 2008

"Flores de plástico não morrem"


A primavera chegou, e com ela, as flores que, discretamente, estavam lá, adormecidas e ansiosas por despertar, tanto nos mais ávidos como nos mais distraídos, sementes de esperança e de paz que se encontram inertes no coração do homem, as quais, mesmo depois de longos períodos de intensa secura, teimam em florescer. E, é florescendo que nós como criaturas, paulatinamente, seremos mais humanos, alegrando e exalando o mais elevado olor, produzindo pequenos frutos de inestimável valor. Com a confiança de que, por mais que as flores sejam efêmeras, já que só “as de plástico é que não morrem”. Ter a certeza de que o esforço da flor não foi em vão, deu fruto, gerou vida e vida em abundância, mesmo na minúscula semente há um grande potencial, sobretudo se plantada e regada à luz da Palavra. Neste clima de alegria - magia e poesia - chego a ti, caro leitor, na esperança de fazer-te presente e ciente do meu “universo interior”.


Edvanio, sf.
(Escrito na primavera de 2007)

domingo, 14 de setembro de 2008

Sobre a arte de engavetar


Gavetas. Põe-se de tudo neste lugar. Fácil de guardar, pode até acumular! Engavetamos papéis e mais papéis, suvenires, quinquilharias e outras bugigangas. Um sem fim de coisas, muitas vãs. Quiçá nunca precisarás. Mas, por se acaso, melhor guardar. Isto e aquilo. Igual coração de mãe, sempre cabe mais um. Venha e, lá estamos a engavetar coisinhas, lembrançinhas e outros diminutivos que não merecem mencionar. Desta arte creio que todos irão provar. Tudo isto para quê? Para que num belo dia de faxina ou de pura revolta (leitor: o belo é maneira de dizer). Ponhamos tudo para fora. Haja lixeira! Coisas que nem a mão esquerda sabia. Existem tranqueiras que custam sair. Jogo ou não jogo: Eis a questão. O bom dessa brincadeira – esvaziar gaveta/encher sarjetas, é que no vai-e-vem de coisas, sempre encontras: fotografias, carta de amigos, aquele livro, sentimentos perdidos, aquele pedido; tudo faz sentido. Há gavetas que adoramos abrir; outras só em alguns momentos; além daquelas que nem sabemos onde a chave está. Estas, em geral, nem fazemos questão de abrir. Quantas gavetas tu tens? Estão cheias? Ou és do tipo que guarda pouca coisa? Seja como for suas gavetas, só não te encerres. Pois, vai que numa noite de incompreensão, acordes na lixeira.
Edvanio, sf.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

“Independência ou morte!”


Independência,
porque não vens,
e nos tira desta pendência?
Que tanto nos penhora,
e nos faz subservientes,
sem lentes.
Se não vens,
então que venha a morte
ainda que não conforte:
Este coração dependente.
Edvanio, sf.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Lua

Ver a lua na rua,
só para quem vive
no mundo da lua.
Edvanio, sf.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

O escaneamento nosso de cada dia



Chegam sem ser notados, invadem nossa privacidade e destrói todo um projeto, uma vida. Assim são os programas maliciosos desenvolvidos por programadores, chamados de vírus, que assim como o biológico, uma vez instalado se espalha por todo o sistema. Basta não ter cuidado! E ele já haverá infectado, destroçado e corrompido horas a fio de trabalho. Um desafio para aqueles que desejam estar conectados, vocacionados. Sim, isso mesmo. Nossa vocação anda pelo mesmo lado. Somos como um PC, expostos aos turbulentos vírus que nos faz extinguir. Porém, há algo que nos pode ajudar: Graças a Deus e aos Antivírus. Não basta tê-los. É necessário o “escaneamento nosso de cada dia”. Além, de muita cautela com os convites, as mensagens, as correntes, os bate-papos, com os relacionamentos virtuais e reais e, claro com a nossa aguçada curiosidade. Sem falar nos presentes que nos chegam seja pen drivers, mp3, e toda a parafernália com entradas USB. Tudo isso, que muita gente nem vê. Faz com que por instantes deitemos lágrimas de dor ao ver nosso computador e nossa vocação escorrer por entre nossas mãos. Não esqueçamos da oração, a nossa atualização. E, em situação limite, não deixe de recorrer ao grande Técnico. Ele pode até não salvar seus arquivos, mas com certeza salvará tua vida.
Edvanio, sf.
Agosto/2008 - Mês Vocacional

domingo, 24 de agosto de 2008

Desertos

Se mentes,
brotam desertos.
Edvanio, sf.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Por pouco uma não me matou


Podem me chamar de insano, ou achar que não tenho com o que me preocupar. Mas, a questão é que elas sempre me intrigaram, melhor ainda, me fascinaram. O pior é que nem sempre tive uma boa experiência com elas. Por pouco uma não me matou. Mesmo assim, sigo amando-as. Quando delas me aproximo sentimentos se encrespam e se mesclam no meu interior. (Não me peça mais explicações! Sou um analfabeto emocional) Por elas passaram e passarão milhares de pessoas, principalmente homens com seus carros viris. O fato de serem bem rodadinhas não os assusta, só faz com que muitos homens as usem cada vez mais. Uma coisa não se pode negar, elas são expansivas e muito democráticas. Todos têm com elas a sua vez. Embora alguns delas sempre abusem. Lá estão elas listas e sinistras. Pronta a dar um giro em nossas vidas. As da minha cidade, em geral, estão sempre tão maquiadas e bem enfeitadas. Dá gosto vê-las. Cerca da minha casa vive uma. Eu e ela somos muito íntimos. Às vezes passo dias sem vê-la, em outros, até perco a conta. Hoje, ao dar uma volta com ela e experimentar, como de costume, a anarquia de sentimentos, me comprometi. Olhando-a bem disse em bom tom: Escreverei algo sobre ti, aliás, sobre toda a sua categoria. Não sei bem o porquê, mas, eu e meu carro adoramos as rotatórias.
Edvanio, sf.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O canto da vida

O sol já não brilha como outrora,
o povo fugiu, foi embora,
não há mais vila, não existe mais cantiga, nem roda,
a flor, nunca mais foi rosa.
E o violeiro, sem rima, grita, desafina,
cantando sua moda entristecida.

Para quê guerrear?
Porque não amar, perdoar, a vida a sério levar?
Porque não sonhar, imaginar e como criança estar a brincar?
Vê se acorda, deixe a discórdia,
a faca e o tiro causam o último suspiro.
Lutando se alcança a glória,
surge a vitória, constrói a história.
Por isso, é que eu canto, como tantos,
sem desencanto o canto da vida.

Edvanio, sf.(2006)

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Estrangeiro

Cada vez me sinto mais em casa.
Um pinheiro em meio a tantas araucárias.
Edvanio,sf.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Frieza

O calor foge do frio como menino arredio.
E se instala no coração da moça que só riu.
Edvanio, sf.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Breve como a borboleta
Intensa como a dor
Frágil como o cristal
Oh intrépida vida que busco abusivamente viver



Vagner Simino

sábado, 19 de julho de 2008

Pessoa

Em pessoa
na terra de Pessoa.
Edvanio, sf
(em Lisboa)

terça-feira, 15 de julho de 2008

Aire

El aire que respiras,
ya no es él mismo.
Está condicionado.
Edvanio, sf.
(Barcelona)

Anochecer

El sol está donde uno quiere anochecer.

Edvanio, sf. -
(Barcelona)

quinta-feira, 5 de junho de 2008

significado

desenfreadamente busco o sentido da vida
desenfreadamente busco o sentido da vida
desenfreadamente busco o sentido da vida
desenfreada mente que busca o sentido da vida
Vagner Simino

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Miudezas

Ponto,
risco,
cisco,
complico.
Edvanio, sf

terça-feira, 3 de junho de 2008

Sobre a poesia

Saudação de Paz e Bem!!!
Ao ler isto me lembrei de você.

Para a poeta e tradutora cearense Virna Teixeira, a poesia é uma forma de se distanciar e, ao mesmo tempo, de se aproximar do mundo, numa procura individual. “É preciso tempo e coragem para processar esta procura individual, o que requer um movimento interno, uma depuração deste excesso. É preciso um pouco de privacidade, de distância para compreendê-la”, diz ela.
Ir. Iara Schneider

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Pérola

Pérola és tu,
ó misteriosa e singela concha.
Edvanio, sf.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Poeta?

Não, não sou um poeta

Ouso considerar-me um?

Não! Sou apenas um homem menor

que anseia deixar de beber vinho para beber vida


Vagner Simino

* depois da leitura de “E assim em Nínive” de Ezra Pound

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Vasos

Vasos quebrados sois vós, ó correria!
Edvanio, sf

terça-feira, 20 de maio de 2008

Amor

A flor da sua janela,
teimosamente delatava
o amor que tinhas por ela.
Edvanio, sf

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Saia

Sambambaias
como saias
vestem
o canto
da
sala.
Edvanio, sf.

domingo, 4 de maio de 2008

Cante

Cante e não dance,
mas, se dançar.
Paciência,
cante em outro lugar.
Só não se canse,
Dê uma chance
a vida é mais que um lance.
E, se dançar, cante.
Só não se encante
para não cair adiante.
Edvanio, sf

sábado, 26 de abril de 2008

Aquela cena sempre rolou!


“O Natal está chegando!” diz, convincentemente, um anúncio televisivo. Que natau é esse?? Pergunta Joãozinho ao pai, que se encontra ao lado, e não responde. O filho, curioso, pergunta mais uma vez, e acrescenta; ele irá visitá nóis papai? A mãe, preocupada com aquela situação embaraçosa, interfere, dizendo: Filhinho, vai brincá lá fora com seus amiguinho e deixe seu pai em paz. Aquela cena ecoou, não só naquele instante, mas por muitos e muitos anos. Embora o filho, insistentemente, tentasse mudá-la. Até hoje não obteve resposta. Talvez, porque o pai não tivera suficiente coragem para dizer, filho, nós somo pobre, o natal só chega pros rico. Por trás de um forjado silêncio e de um “vai brincar lá fora”, provavelmente, se escondia um pai e uma mãe, envergonhados por não poderem comprar, ao menos, um sapato novo para o filho, já que aquele se desgastara de tão velho. E, de nem tampouco poder preparar um digno jantar, a base de feijão, arroz e carne. Esta era a cena que, incansavelmente, rolava todos os anos, já que o deus esperado tinha outro nome e exigia um berço esplêndido para o seu nascimento. O estábulo não servia. Felizmente, o “deus do consumo” nesta casa nunca pôde habitar. Não por serem pobres, mas porque nela outro Deus teimava em nascer. Embora não enxergassem, o Natal sempre os visitou, ou melhor, ele sempre aconteceu. Sabe porquê? Porque naquelas noites uma cena sempre rolava: O pai, a mãe e o filho, juntos repartindo com amor a última migalha de pão da mesa farta do patrão.
(Natal/2006)
Edvanio, sf.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Poema LXIV


De amar mucho tienes la palabra que persuade,
la mirada que vence y que turba...
De amar mucho dejas amor en torno tuyo,
el que pasa cerca y se huele el perfume en el pecho,
viene a creer que tiene la rosa dentro...
(DULCE M. LOYNAZ)

sábado, 19 de abril de 2008

Contei até dez


Naquela noite parei de me preocupar. Resolvi me ausentar, sumir... me omitir. Afinal, os problemas do mundo não eram meus, eram teus, de Deus. Eu sou só eu, só eu e ponto final. A corrupção e as guerras, o lixo e o fim da primavera, o globo cada vez mais quente, a fome de tanta gente, a escassez de sementes e dos bons sentimentos. Que dessem um tempo. Eu já tinha meus próprios tormentos. Se a vida é tão era cara, para que expô-la por ideologias que não levam a nada. Muito menos dá-la de bandeja para aquele que apareça mendigando que eu no meu mundinho fosse benfazeja. Dali em diante, vivi só para mim! Gastando minhas preciosas horas contemplando meu próprio umbigo. Esqueci até os pronomes oblíquos... Só restou a mim, estava sempre comigo e sem amigos. Possuía-me e, tudo isto bastava, me consumia... De uma hora pra outra, senti uma mão puxando o lençol. Era meu pai anunciando com firmeza de voz que o dia já nascera e, que havia muito serviço lá na feira. Sem muito entender, só por obedecer, desci da cama e como se algo pressentisse, não resmunguei, contei até dez e interiormente respondi: Pai, eis aqui o teu servo!
Edvanio, sf.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Coisas do coração

Minha mente, mente.
Meu coração, não.
Edvanio, sf

Descontentamento

Margarida, porque choras?
Não vês que não podes ser rosa!
Edvanio, sf.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Palavras

Palavras são como pássaros;
De súbito, voam, e não voltam.
Edvanio,sf.

domingo, 13 de abril de 2008

Sobre rabiscar

Quando quero escrever
simplesmente não consigo.
E bem que insisto.
A arte foge do risco.
Já não rabisco,
ai, eu desisto.
O Criador
deve estar dormindo,
deixa-Lo dormir.
Que tolice!
Deus descansar.
Pare de viajar,
volte para cá
e torne a rabiscar.
Edvanio, sf.

sábado, 12 de abril de 2008

Que fofinha aquela galinha!


O silêncio já não é como dantes, está doente. Silenciar tornou-se basicamente não bater de frente. Como bem diz a sentença: “Quem cala, consente”. Dá corda ao intransigente. Passa a ser como sempre, como toda a gente, por temer ser insurgente e cair do batente. De repente, aquele que consente, passa a ser também conivente. Aí, já não se sente, nem mesmo dor de dente. Nem invente. Quem surgir, insurgir, se arrepende - o repreendem: Não seja demente, se contente, nem que para isso tenha que fugir do continente. Seja continente, ou deixe a gente, urgentemente seu insolente. O silêncio por incrível que pareça causa espanto, vem em bando e nos assalta, afinal, ele está em alta. Êpa! Melhor usar outra palavra, pois vai que algum investidor resolve dá um lance. Em alta?!? (resmunga alguém pesaroso) Impossível. Estamos na era do ruído, dos ouvidos plugados. Como estou conectado aos meus decibéis. Não vejo víeis, não ouço, não falo, entalo, fica no gargalho. E quem fala, cai do galho, sai pelo ralo. Deixa de ser galo. Melhor ser galinha, muita comidinha. Que fofinha aquela galinha! Asas para que te quero? Tenho muito farelo! O silêncio, infelizmente nos tem deixado amarelos.
Edvanio, sf.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Caixa



Quanto àquela,
sempre a tive.
Um dia dela precisarás!
E hás de abri-la,
e de fechá-la.
E de tornar a abrir.
Será que irá me servir?
É bom guardar,
de modo que ninguém,
[a possa achar.
Que poderão pensar
Se ela não vier a servir?
Quem vai abrir,
a caixa
dentro de mim.
Edvanio, sf.

sábado, 5 de abril de 2008

Sobre Calorias



Mais uma páscoa se aproxima, disse o menino a catequista. Esta, orgulhosa dos seus ensinamentos, rapidamente pensou: Até que enfim um se salvou! E, instantaneamente o questionou. Como você sabe querido? Ora, Profe, basta ir ao shopping. É, realmente a páscoa se aproxima e com ela toneladas de chocolates... Compre batom, seu filho merece batom!!! Quem não lembra desta e de uma enxurrada de propagandas que ecoam em nosso inconsciente. E que justamente nesta época são reforçadas, nos forçando a engoli-las, ou melhor, a engoli-los. Os chocolates latem das prateleiras para serem consumidos.
Nesta Páscoa, faça diferente, seja inteligente. Ao invés de presentear calorias para as pessoas ao seu redor, dê CALOR e RIA. Mas, ria muito porque o Cristo que outrora estava morto ressuscitou no terceiro dia.
Edvanio, sf. - Páscoa/ 2008

Se soubéssemos nadar


Pela manhã basta ligar o rádio, abrir a janela e já vê que não vale a pena sobreviver. É um tal de sofrer. Deus que me livre! Ô mundinho complicado pra se viver. Acho que vou morar em Marte. Quem sabe lá os marcianos sejam mais humanos e me convidem para sair, tomar algo, jogar baralho, bater papo. Coisas um pouco esquecidas por aqui. Por lá deve até ter convite para uma xícara de chá, lugar pra estacionar, convite pra jantar e se vacilar eu vou até dançar para os males aqui espantar e não vê assim tanta gente pelos cantos a chorar e se lamentar batendo no peito e gritando que não vale mais a pena viver. O que não vale é viver desse jeito, dando jeitinho brasileiro. Se ao menos soubéssemos nadar, poderíamos atravessar o rio da descrença e quem sabe do outro lado, não necessariamente em marte, seríamos mais felizes.
Edvanio, sf