Vista do Cristo (Rio de Janeiro)

Vista do Cristo (Rio de Janeiro)

sábado, 26 de abril de 2008

Aquela cena sempre rolou!


“O Natal está chegando!” diz, convincentemente, um anúncio televisivo. Que natau é esse?? Pergunta Joãozinho ao pai, que se encontra ao lado, e não responde. O filho, curioso, pergunta mais uma vez, e acrescenta; ele irá visitá nóis papai? A mãe, preocupada com aquela situação embaraçosa, interfere, dizendo: Filhinho, vai brincá lá fora com seus amiguinho e deixe seu pai em paz. Aquela cena ecoou, não só naquele instante, mas por muitos e muitos anos. Embora o filho, insistentemente, tentasse mudá-la. Até hoje não obteve resposta. Talvez, porque o pai não tivera suficiente coragem para dizer, filho, nós somo pobre, o natal só chega pros rico. Por trás de um forjado silêncio e de um “vai brincar lá fora”, provavelmente, se escondia um pai e uma mãe, envergonhados por não poderem comprar, ao menos, um sapato novo para o filho, já que aquele se desgastara de tão velho. E, de nem tampouco poder preparar um digno jantar, a base de feijão, arroz e carne. Esta era a cena que, incansavelmente, rolava todos os anos, já que o deus esperado tinha outro nome e exigia um berço esplêndido para o seu nascimento. O estábulo não servia. Felizmente, o “deus do consumo” nesta casa nunca pôde habitar. Não por serem pobres, mas porque nela outro Deus teimava em nascer. Embora não enxergassem, o Natal sempre os visitou, ou melhor, ele sempre aconteceu. Sabe porquê? Porque naquelas noites uma cena sempre rolava: O pai, a mãe e o filho, juntos repartindo com amor a última migalha de pão da mesa farta do patrão.
(Natal/2006)
Edvanio, sf.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Poema LXIV


De amar mucho tienes la palabra que persuade,
la mirada que vence y que turba...
De amar mucho dejas amor en torno tuyo,
el que pasa cerca y se huele el perfume en el pecho,
viene a creer que tiene la rosa dentro...
(DULCE M. LOYNAZ)

sábado, 19 de abril de 2008

Contei até dez


Naquela noite parei de me preocupar. Resolvi me ausentar, sumir... me omitir. Afinal, os problemas do mundo não eram meus, eram teus, de Deus. Eu sou só eu, só eu e ponto final. A corrupção e as guerras, o lixo e o fim da primavera, o globo cada vez mais quente, a fome de tanta gente, a escassez de sementes e dos bons sentimentos. Que dessem um tempo. Eu já tinha meus próprios tormentos. Se a vida é tão era cara, para que expô-la por ideologias que não levam a nada. Muito menos dá-la de bandeja para aquele que apareça mendigando que eu no meu mundinho fosse benfazeja. Dali em diante, vivi só para mim! Gastando minhas preciosas horas contemplando meu próprio umbigo. Esqueci até os pronomes oblíquos... Só restou a mim, estava sempre comigo e sem amigos. Possuía-me e, tudo isto bastava, me consumia... De uma hora pra outra, senti uma mão puxando o lençol. Era meu pai anunciando com firmeza de voz que o dia já nascera e, que havia muito serviço lá na feira. Sem muito entender, só por obedecer, desci da cama e como se algo pressentisse, não resmunguei, contei até dez e interiormente respondi: Pai, eis aqui o teu servo!
Edvanio, sf.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Coisas do coração

Minha mente, mente.
Meu coração, não.
Edvanio, sf

Descontentamento

Margarida, porque choras?
Não vês que não podes ser rosa!
Edvanio, sf.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Palavras

Palavras são como pássaros;
De súbito, voam, e não voltam.
Edvanio,sf.

domingo, 13 de abril de 2008

Sobre rabiscar

Quando quero escrever
simplesmente não consigo.
E bem que insisto.
A arte foge do risco.
Já não rabisco,
ai, eu desisto.
O Criador
deve estar dormindo,
deixa-Lo dormir.
Que tolice!
Deus descansar.
Pare de viajar,
volte para cá
e torne a rabiscar.
Edvanio, sf.

sábado, 12 de abril de 2008

Que fofinha aquela galinha!


O silêncio já não é como dantes, está doente. Silenciar tornou-se basicamente não bater de frente. Como bem diz a sentença: “Quem cala, consente”. Dá corda ao intransigente. Passa a ser como sempre, como toda a gente, por temer ser insurgente e cair do batente. De repente, aquele que consente, passa a ser também conivente. Aí, já não se sente, nem mesmo dor de dente. Nem invente. Quem surgir, insurgir, se arrepende - o repreendem: Não seja demente, se contente, nem que para isso tenha que fugir do continente. Seja continente, ou deixe a gente, urgentemente seu insolente. O silêncio por incrível que pareça causa espanto, vem em bando e nos assalta, afinal, ele está em alta. Êpa! Melhor usar outra palavra, pois vai que algum investidor resolve dá um lance. Em alta?!? (resmunga alguém pesaroso) Impossível. Estamos na era do ruído, dos ouvidos plugados. Como estou conectado aos meus decibéis. Não vejo víeis, não ouço, não falo, entalo, fica no gargalho. E quem fala, cai do galho, sai pelo ralo. Deixa de ser galo. Melhor ser galinha, muita comidinha. Que fofinha aquela galinha! Asas para que te quero? Tenho muito farelo! O silêncio, infelizmente nos tem deixado amarelos.
Edvanio, sf.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Caixa



Quanto àquela,
sempre a tive.
Um dia dela precisarás!
E hás de abri-la,
e de fechá-la.
E de tornar a abrir.
Será que irá me servir?
É bom guardar,
de modo que ninguém,
[a possa achar.
Que poderão pensar
Se ela não vier a servir?
Quem vai abrir,
a caixa
dentro de mim.
Edvanio, sf.

sábado, 5 de abril de 2008

Sobre Calorias



Mais uma páscoa se aproxima, disse o menino a catequista. Esta, orgulhosa dos seus ensinamentos, rapidamente pensou: Até que enfim um se salvou! E, instantaneamente o questionou. Como você sabe querido? Ora, Profe, basta ir ao shopping. É, realmente a páscoa se aproxima e com ela toneladas de chocolates... Compre batom, seu filho merece batom!!! Quem não lembra desta e de uma enxurrada de propagandas que ecoam em nosso inconsciente. E que justamente nesta época são reforçadas, nos forçando a engoli-las, ou melhor, a engoli-los. Os chocolates latem das prateleiras para serem consumidos.
Nesta Páscoa, faça diferente, seja inteligente. Ao invés de presentear calorias para as pessoas ao seu redor, dê CALOR e RIA. Mas, ria muito porque o Cristo que outrora estava morto ressuscitou no terceiro dia.
Edvanio, sf. - Páscoa/ 2008

Se soubéssemos nadar


Pela manhã basta ligar o rádio, abrir a janela e já vê que não vale a pena sobreviver. É um tal de sofrer. Deus que me livre! Ô mundinho complicado pra se viver. Acho que vou morar em Marte. Quem sabe lá os marcianos sejam mais humanos e me convidem para sair, tomar algo, jogar baralho, bater papo. Coisas um pouco esquecidas por aqui. Por lá deve até ter convite para uma xícara de chá, lugar pra estacionar, convite pra jantar e se vacilar eu vou até dançar para os males aqui espantar e não vê assim tanta gente pelos cantos a chorar e se lamentar batendo no peito e gritando que não vale mais a pena viver. O que não vale é viver desse jeito, dando jeitinho brasileiro. Se ao menos soubéssemos nadar, poderíamos atravessar o rio da descrença e quem sabe do outro lado, não necessariamente em marte, seríamos mais felizes.
Edvanio, sf