Vista do Cristo (Rio de Janeiro)

Vista do Cristo (Rio de Janeiro)

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Janela poética



Há muito tempo não abria
a janela da poesia.
Edvanio, sf


domingo, 27 de novembro de 2011

“Fiado quem sabe amanhã”


            Tenho saudade dos cadernos de fiados, tão comuns no Brasil de ontem. Lembro como se fosse hoje de ver meu pai anotando o valor da compra e o nome (ou apenas o apelido e/ou algo que distinguisse aquele cliente dos outros mortais). Como era bom ver no semblante daquelas pessoas a alegria por alguém ter confiado nela. “Seu nome é como, mesmo?”, dizia ele. “Ponha Dedezinha! Dedezinha neta do finado João das pedras!”, respondia ela. E para finalizar a compra meu pai dizia: “tá anotado!” A compradora, sorridente, se despedia com estas palavras: “Obrigado, quando eu receber o pagamento acerto”. E assim era a prática de meu pai e de muitos e muitos comerciantes – confiar e confiar.

            Tenho saudade daqueles cadernos...

            Na confiança há sempre o risco. Mas, como diz o velho ditado “quem não arrisca não petisca”. E assim era... Muitos voltavam até antes do tempo previsto para acertar suas contas, honrando suas dívidas; outros que eram “britânicos” apareciam no dia e hora combinados incluso com o dinheiro trocado. Outros ainda, nunca mais apareciam, “sabe Deus onde iam parar”! Literalmente davam calote. Porém, havia também aqueles que com humildade, suplicavam um prazo maior para acertarem suas dívidas. Já que estavam impossibilitados de pagar por diversas circunstâncias pessoais. Neste contexto, postergar, parcelar, abater ou mesmo perdoar aquela dívida era fácil. Bastava riscar ou borrar o valor no caderno. Na minha experiência, muitas vezes presenciei meu pai se dirigir ao devedor com essas palavras: “Deixa pra lá”! Ou seja, você não me deve mais nada. Pode ir tranquilo, está perdoado. O curioso é que, passado um tempo desde a remissão da dívida, alguns chegavam com algum tipo de presente (frangos, doces, frutas...) e assim passavam a ser eternamente gratos.

            Tenho saudade daqueles cadernos...

             No Brasil de hoje, praticamente poucos existem. Há sim, boletos e cartões de crédito, “com o cartão de crédito a senhora pode pagar até em 36 prestações!” argumentam muitos vendedores loucos para vender seus produtos. Ouse comprar e não pagar em dia, para ver só as consequências catastróficas. Um deslize referente ao dia do pagamento e você terá que ir somente naquele banco específico realizar o pagamento, enfrentar fila e ainda pagar multa. Sem contar que dias depois, corre o risco de chegar uma carta em casa dizendo que você tem dívida pendente. Daí surge uma nova corrida seja por telefone, e-mail, chat ou pessoalmente para provar que a fatura foi paga. Se a pessoa descuidar o nome dela pode ir incluso para o SPC ou outras instâncias. Se isso ocorrer, prepara-se para seguir lutando, pois a guerra para sanar essa dívida continua... Ai, de você se não gritar aos quatro cantos, provando por A+B que já não deve nada.

            Tenho saudade daqueles cadernos...

            No sistema moderno não importa quem é o outro que deve. Não há um interesse em conhecer os motivos que levaram ao atraso do pagamento. Há poucos dias, dentro de um aeroporto no Brasil presenciei um cidadão, prestes a embarcar, que buscava por celular entender o bloqueio do seu cartão de crédito por algum tipo de pagamento não realizado, provavelmente por um descuido, uma vez que segundo ele, nunca deixou de honrar suas dívidas. Chegou uma hora em que esse cidadão suplicava ao telefone para que fossem flexíveis já que estava embarcando para outro país e só levava consigo o cartão bloqueado. O final dessa história dá para imaginar...

            Tenho saudade daqueles cadernos...

            Infelizmente, assim como desconfiamos dos clientes, também não confiamos nas demais pessoas. Desconfiamos incluso da nossa própria sombra. Consequentemente, perdoar se tornou burocrático e impessoal. A nossa sorte é que Deus Pai segue com o seu caderninho... Ele olha amorosamente para nossa vida e vendo nossa fraqueza e arrependimento diz com carinho: “Deixa pra lá” e, imediatamente borra nossa dívida.

            Que saudade eu tenho dos cadernos de fiado!

Edvanio, sf

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Surdez Profunda


Está praticamente surdo,
Já não escuta gritos,
apenas os sussurros das folhas,
que caem das arvores.
Edvanio, sf

sábado, 14 de maio de 2011



O bonsai que cultivo,
cultivou-me.



Edvanio, sf

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Pegadas...

O homem enxerga pegadas, nunca horizontes.
Edvanio, sf

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Caristia

As vogais estão pela hora da morte,
do ovo só restou V.

Edvanio, sf

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Viagem

Há tempos não escrevo,
não me vejo.
Cheguei ontem,
sem espelho.
Edvanio, sf

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Pedra no sapato





Poucas pessoas veem sua pedra no sapato. Muito menos o motivo pelo qual aquele moço, que pouco se conhece, anda torto. Nem porque aquela senhora que parece grossa, anda feito tosca. A pedra não se vê. O efeito dela, sim, vemos. Mas verdadeiramente não enxergamos.
Em nossa caminhada acumulamos pedras e mais pedras. E dali caminhar, aliás, mancar, se arrastar vida afora. Acostumamo-nos com as pedras, as dores e as feridas. Ao mancar já não sabemos quem somos, para onde vamos... Poeira nossa de cada dia. E, ai seguimos errantes na vida. Errando caminhos, repisando a história, irresolutos.
Porém, eis que uma hora: Alguém que simplesmente anda nos impressiona. Como anda bem aquele moço! Anda sem esforço! O que terá ele de especial? Será o tipo de sapato? Por fim descobrimos que na verdade, não há um sapato certo, o que importa é a forma como se calça. O quanto os reviso. Pisar na estrada é assumir nosso compromisso como seres humanos.
O final de uma caminhada se aproxima. Não adianta se lamentar pelo andar já andado. O que importa é reconhecer nossos passos cambaleantes e assumir o novo caminho que há pela frente, assim nos ensinou nosso Mestre Jesus Cristo. Quem não tiver pecados que me apresente seu sapato. Não é hora de julgamentos e acusações. É hora de revisão, de averiguar os sapatos. Sacudir até a última pedra cair. Além disso, é urgente poli-los para o grande Festim, no qual somos eternos convidados. Ergamos a cabeça e caminhemos não como outrora, trôpegos, mas confiantes de que embora haja pedras, sempre é possível removê-las e seguir caminhando.
Em 2011, boa Caminhada!!!
Edvanio,sf

sábado, 4 de dezembro de 2010

Alegria

Alegria é assim:
Abre portas e janelas.
Quem está dentro
não consegue se esconder.

Edvanio,sf

sábado, 12 de junho de 2010

Janelas

Janelas,
elas e a vida,
idas e vindas.
Todas gente a passar...
Bom dia, Comadre!
Boa tarde, Compadre!
o sol se fechou
a lua se abriu.
Janelas,
sem elas
o mundo não passa
o dia não chega
e a noite...
Alguém a viu?
Edvanio, sf

sexta-feira, 7 de maio de 2010

ABC

Quando aprendeu o ABC:
A de aeronave,
B de bolacha,
C de coração.
Descobriu:
que a Vivi viu a uva,
a ave voa viva,
a língua estava morta.
E que, alguém, sabe-se lá quem
roeu a ropa do rei.
Edvanio, sf

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Socienganação

Socializam informações
dissocializam conhecimentos.
Socienganação.
Nesse espaço se penso.
Engarafo nuvens,
vendo pensamentos.
Edvanio, sf

quinta-feira, 25 de março de 2010

Parto

Parto e não me acho.

Edvanio, sf

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

MP3



O que será dos CD´s?

LP e K7 já não se vê.

A onda é MP:

três, quatro, cinco, seis, sete...

Pare de contar!


Edvanio, sf

sábado, 19 de dezembro de 2009

DO MILAGRE MAIOR...

(Nascimento - Templo da Sagrada Família - Barcelona)


A noite não sei como era...
Sei que se rompeu o silêncio, a luz se fez, a vida aconteceu.
Do tempo infinito, o limitado tempo.
Que reescrevia Deus na linguagem homem.
O Verbo feito carne e feito imagem.
Não sei...
Testemunho, resposta, seja o que for...
Um perdão de eterno cumprindo
Insondável desígnio de transitoriedade.
Deus se dividindo em cada um de nós,
Em cada um de nós, inteiro.
E sua Mãe nos deu...
Como o melhor presente de Natal...
E o NATAL foi e será... para sempre.


Mer, sf
(desde Itália)